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Anatomia - Hemi-hepatectomia Direita, Assistida Roboticamente

  1. Anatomia funcional do fígado

    Anatomia funcional do fígado

    O fígado é macroscopicamente dividido em um lobo direito maior e um lobo esquerdo menor (proporção de volume aproximadamente 80:20) pelo ligamento falciforme, a inserção do ligamento redondo do fígado na superfície diafragmática e a fissura sagital na superfície visceral. No entanto, essa divisão morfológica não corresponde à estrutura funcional do fígado.

    A segmentação funcional do fígado é determinada pelos padrões de ramificação das estruturas da tríade portal: a veia porta (vena portae), a artéria hepática (arteria hepatica) e o ducto colédoco (ductus choledochus). Essas estruturas se ramificam de forma consistente tanto na porta hepática quanto dentro do parênquima. Cada segmento hepático é completamente independente em termos de suprimento sanguíneo e drenagem biliar, permitindo que qualquer segmento seja removido cirurgicamente sem comprometer a funcionalidade do fígado restante.

    O conceito de anatomia funcional refere-se a essa subdivisão do fígado em unidades parenquimatosas hemodinamicamente independentes, cujo conhecimento é crítico para o planejamento e execução de procedimentos de ressecção hepática.

  2. Veia porta e veias hepáticas

    A divisão funcional do fígado é baseada na ramificação da veia porta em subunidades independentes chamadas segmentos.

    Anatomia da Veia Porta:

    • A veia porta tipicamente se bifurca no hilo hepático em um ramo principal direito e esquerdo
    • A fronteira entre os territórios desses ramos é a linha Cava-Vesícula (linha de Cantlie)
    • O ramo direito se divide ainda em um tronco anteromedial (suprindo os segmentos V/VIII) e um tronco posterolateral (suprindo os segmentos VI/VII)
    • O ramo esquerdo cursa transversalmente para a esquerda e depois anteriormente como a pars umbilicalis, terminando na inserção do ligamento redondo do fígado noRecesso de Rex. Ele fornece ramos para:
      • Segmentos II e III (segmentos laterais esquerdos)
      • Segmentos IVa e IVb (segmentos mediais esquerdos)

    Caso Único do Lóbulo Caudado:

    O Lobus caudatus (Segmento I) é único, pois recebe influxo significativo de ambos os ramos portais principais direito e esquerdo.

    Segmentação de Acordo com Couinaud:

    O fígado é dividido em oito segmentos venosos portais, numerados no sentido horário a partir do lóbulo caudado:

    • Segmento I: Lóbulo caudado
    • Segmentos I/II/III: Lóbulo lateral esquerdo
    • Segmento IV: Setor paramediano esquerdo (Lobus quadratus)
    • Segmentos I/II/III/IV: Lóbulo hepático esquerdo
    • Segmentos V/VIII: Setor paramediano direito
    • Segmentos VI/VII: Setor lateral direito
    • Segmentos V/VI/VII/VIII: Lóbulo hepático direito

    Veias Hepáticas:

    O fígado é atravessado por três veias hepáticas principais — direita, média e veias hepáticas esquerda — que o dividem em quatro setores hepáticos:

    • A veia hepática esquerda drena o lóbulo lateral esquerdo e geralmente se une à veia hepática média perto da veia cava
    • A veia hepática média segue a linha de Cantlie e separa os setores paramedianos esquerdo e direito
    • A veia hepática direita corre entre o segmento posterolateral e anteromedial

    O Lobus caudatus tem drenagem venosa independente por meio de múltiplas pequenas veias (veias de Spieghel) que deságuam diretamente na veia cava.

    Hilo Portal e Venoso:

    • Os portais dos segmentos II, III e IV são extra-hepáticos e podem ser dissecados com relativa facilidade na porção anterior da fissura umbilical esquerda
    • Os portais dos segmentos hepáticos direitos são intra-hepáticos, com o Segmento VI ocasionalmente apresentando exceções

    Variações:

    Sistema Venoso Portal:

    • Anomalias da bifurcação da veia porta afetam quase exclusivamente o ramo portal principal direito:
      • Trifurcação da veia porta: O ramo principal direito está ausente, substituído por dois ramos suprindo os segmentos V/VIII e VI/VII
    • Em casos raros, um ramo direito pode surgir da veia porta esquerda
    • Variantes no sistema portal esquerdo geralmente envolvem segmentação:
      • Múltiplos pequenos ramos em vez de dois ramos distintos para IVa/IVb
      • Ocasionalmente, existe um ramo intermediário entre os segmentos II e III
    40_LAV_01_a_b_Pfortader_Lebervenen

    Figuras 1a e 1b

    • PV = Veia porta
    • LPV = Veia porta esquerda
    • RA = Ramo anteromedial da veia porta direita
    • RP = Ramo posterolateral da veia porta direita

    Veias Hepáticas:

    • Variações nas veias hepáticas são mais comuns do que no sistema da veia porta
    • Desvios dos setores hepáticos de Couinaud afetam principalmente os territórios das veias hepáticas direita e média

    Esse conhecimento detalhado da anatomia funcional e variante é essencial para o planejamento e execução precisos de ressecções hepáticas.

  3. Artérias hepáticas

    A artéria hepática comum surge do tronco celíaco, embora em casos raros, ela possa originar-se diretamente da aorta ou da artéria mesentérica superior. Após emitir a artéria gastroduodenal, ela continua como a artéria hepática própria, que se bifurca no hilo hepático nas artérias hepáticasdireita e esquerda.

    Ramos extra-hepáticos, como a artéria que supre o Segmento IV, frequentemente surgem logo antes da fissura umbilical da artéria hepática esquerda.

    Variações:

    • Desvios do padrão arterial normal ocorrem em 30 % dos casos
    • Variações anatômicas comuns incluem:
      • Uma artéria hepática substituída ou acessória originando-se da artéria mesentérica superior ou da artéria gástrica esquerda
    • Ambas as variações podem ocorrer simultaneamente
    40_LAV_02_a_b_Leberarterie
    40_LAV_02_c_d_Leberarterie
    40_LAV_02_e_Leberarterie
  4. Sistema Biliar

    Ducto Hepático Esquerdo (Ductus hepaticus sinister)

    • A porção extra-hepática do ducto hepático esquerdo mede aproximadamente 3 – 5 cm e se forma na fissura umbilical a partir da união dos ductos que drenam os Segmentos II e III
    • O ducto biliar do Segmento IV tipicamente se une proximalmente a essa união
    40_LAV_03_a_Gallenwege

    Ducto Hepático Direito (Ductus hepaticus dexter)

    • O ducto hepático direito é curto, aproximadamente 1 cm, e coleta bile por meio de ramos anterior e posterior dos Segmentos V, VI, VII e VIII
    • Em alguns casos, o ducto hepático direito está ausente, e os ramos anterior/posterior drenam diretamente para o ducto hepático comum
    40_LAV_03_b_Gallenwege

    Variações:

    Ducto Hepático Esquerdo

    • A variação mais frequente e clinicamente significativa (~ 25 %) é umaunião comum do ducto biliar do Segmento IV com os dos Segmentos II e III
    • Essa variação é crítica durante ressecções laterais esquerdas, transplante de fígado de doador vivo e divisão de fígado, pois pode prejudicar a drenagem biliar do Segmento IV

    Ducto Hepático Direito

    • Ele pode ser muito curto ou ausente, com pedículos anterior e posterior drenando diretamente para o ducto hepático comum. Isso elimina a bifurcação típica do ducto hepático

    Figuras 3b a 3g

    • rp = Ducto biliar posterior direito
    • ra = Ducto biliar anterior direito
    •  dhs = Ducto hepático esquerdo

    Variações da Confluência Biliar

    • O ramo posterior drena diretamente para o ducto cístico, ducto hepático comum ou ducto biliar comum (coledoco)
    • Ramos anterior ou mais comumente posterior do ducto hepático direito drenam para o ducto hepático esquerdo
    40_LAV_03_c_Gallenwege
    40_LAV_03_d_Gallenwege

    Relevância Clínica:

    • Durante uma hemi-hepatectomia esquerda, a transecção acidental de tais ductos variantes pode resultar em vazamento biliar grave e colestase segmentar no lobo hepático direito
    40_LAV_03_e_Gallenwege
    40_LAV_03_f_Gallenwege
    40_LAV_03_g_Gallenwege

    Compreender essas variações anatômicas arteriais e biliares é essencial para evitar complicações durante ressecções hepáticas, transplante de fígado e intervenções biliares.

  5. Linfonodos Regionais

    O fígado possui dois principais caminhos de drenagem linfática:

    Via Primária (90 %)

    • A linfa do fígado flui para os linfonodos na porta hepática
    • A partir daí, ela drena via linfonodos celíacos (Nodi lymphatici coeliaci) para o tronco intestinal e eventualmente para o ducto torácico

     Via Secundária (10 %)

    • Esta via serve a superfície da face diafragmática e a área nua do fígado
    • A linfa passa através do diafragma para os linfonodos frênicos superiores e então via linfáticos mediastinais para o ângulo venoso direito