Insuficiência Anastomótica (em ressecção eletiva de cólon 1-3%)
A insuficiência anastomótica representa a complicação mais grave após ressecções de câncer de cólon. Qualquer desvio do curso pós-operatório normal deve sugerir insuficiência anastomótica. Em caso de suspeita justificada, deve-se realizar imediatamente uma endoscopia (flexível) e/ou uma TC com enchimento retal.
Clinicamente evidente geralmente entre o 5º e o 12º dia pós-operatório.
Um CRP baixo (proteína C-reativa) entre o 3º e o 5º dia pós-operatório tem valor preditivo negativo; valores > 170 são suspeitos no contexto clínico correspondente.
Prevenção através de: Extremidades intestinais sem tensão, bem perfundidas; administração restritiva de fluidos intravenosos perioperatórios.
Tratamento: Cirurgia de revisão. Restabelecimento da anastomose com ou sem criação de estoma dependendo dos achados intraoperatórios e da condição do paciente. Em caso de condição séptica -> ressecção de descontinuidade.
Infecção de Ferida (4->30% dependendo da definição, diagnósticos e tempo de acompanhamento)
De acordo com o CDC (Centro de Controle de Doenças), distinguem-se 3 categorias:
- A1 infecções superficiais envolvendo apenas a pele e o tecido subcutâneo.
- A2 infecções profundas atingindo até a fáscia e os músculos.
- A3 infecções envolvendo órgãos
Profilaxia: Administração de antibióticos até 30 minutos antes da incisão da pele e repetição após 4 horas dependendo da duração da cirurgia e continuação em feridas contaminadas; primeira troca de curativo 48 horas após a cirurgia; evitar hipotermia.
Tratamento: Abertura ampla da ferida, irrigação regular com solução salina estéril; se necessário, terapia antibiótica calculada eficaz contra E. coli e S. aureus, os dois patógenos mais comuns de infecções de feridas. Desbridamento de áreas necróticas. Feridas grandes com formação de bolsos podem ser candidatas à terapia a vácuo.
Abscesso (0,7-12%)
Sintomas: Paralisia intestinal, peritonite localizada, sinais de inflamação (leucocitose, febre, CRP alto)
Diagnóstico/Tratamento: Ultrassom ou TC possivelmente com colocação de drenagem intervencionista. Abscessos menores sem sinais clínicos de infecção, diagnosticados como achados incidentais, devem ser monitorados ao longo do tempo e não necessariamente requerem tratamento cirúrgico ou intervencionista.
Formações de abscesso próximas à anastomose sugerem insuficiência anastomótica. Portanto, na presença de abscessos intra-abdominais, uma falha na sutura deve ser excluída. Se o meio de contraste entrar na cavidade do abscesso e depois no intestino, a insuficiência anastomótica é comprovada.
Prevenção através de lavagem peritoneal, que não apenas reduz a contaminação bacteriana, mas também remove sangue e coágulos como terreno fértil para patógenos. Citocinas pró-inflamatórias, que são precursoras de aderências, também são significativamente diluídas pela lavagem.
Deiscência de Ferida (deiscência fascial pós-operatória precoce) (incidência até 3%)
Geralmente resultado de distúrbio de cicatrização de ferida pós-operatória, outros fatores influenciadores incluem comorbidades relacionadas ao paciente e a técnica cirúrgica de fechamento da parede abdominal.
Entre o 8º e o 12º dia pós-operatório, frequentemente inicialmente como deiscência de ferida subcutânea com fechamento de pele intacto.
Sintomas: Secreção serosa progressiva da ferida ou queixas de subíleo.
Tratamento: Intervenção cirúrgica imediata sempre com revisão da cavidade abdominal para excluir uma causa intra-abdominal. Fechamento da parede abdominal com ou sem curativo a vácuo, em situações de infecção complexas tratamento de ferida aberta como laparostoma.
Íleo Pós-Operatório (até 20%)
Sintomas: Náusea e vômito, incapacidade de ingestão oral, abdome distendido, peristaltismo intestinal escasso.
Tratamento: Em caso de vômitos recorrentes, inserção de sonda nasogástrica para descompressão do trato gastrointestinal e profilaxia de aspiração.
7 dias após ingestão inadequada de alimentos, deve-se iniciar suprimento calórico parenteral com 25-30 kcal/kg de peso corporal (Proteína:Gordura:Carboidratos – 20:30:50).
Profilaxia: Administração restritiva de fluidos intravenosos, anestesia epidural.
Hemorragia Pós-Operatória (0,5-3%)
Causas: Distúrbios de coagulação ou erros técnicos diretamente relacionados à operação.
Sintomas: Taquicardia, hipotensão, oligúria, sangue na drenagem
Diagnóstico: Queda de hemoglobina e hematócrito em análises laboratoriais; ultrassom, TC com angiografia.
Tratamento: Em caso de instabilidade circulatória, reexploração cirúrgica imediata. Em pacientes circulatoriamente estáveis, localização precisa da fonte de sangramento (intra- versus extraluminal), otimização da situação de coagulação.
Sangramento intraluminal é inicialmente tratado endoscopicamente, se houver problemas, possivelmente angiografia e embolização superseletiva.
Estenose Anastomótica
Inicialmente, tentativa de dilatação endoscópica, se malsucedida, restabelecimento cirúrgico é inevitável.
Hérnia Incisional
Reparo cirúrgico não antes de 6 meses com reparo com malha.
Outras Complicações
Lesão intestinal não percebida intraoperatoriamente. Curso frequentemente insidioso, secreção de drenagem perceptível, valores inflamatórios altos, vazamento de meio de contraste em diagnósticos radiográficos. Prevenção através de inspeção completa do intestino, especialmente após adesiólise extensa antes do fechamento da parede abdominal.
Lesão ureteral não percebida intraoperatoriamente: Dor abdominal ou no flanco. Descarga abundante de fluido "claro" através da(s) drenagem(ns) com produção de urina simultaneamente reduzida. Diagnóstico por determinação de creatinina da secreção de drenagem. Em caso de obstrução ureteral por ligaduras, clipes ou estenose cicatricial, desenvolve-se hidronefrose. Outros diagnósticos urológicos invasivos com imagem ureteral retrógrada.
Complicações Médicas: Trombose/Embolia; Pneumonia; Complicações cardíacas; Infecção do trato urinário; Acidente vascular cerebral